Falando de Corrida

Novidades, lembranças e curiosidades do nosso esporte a motor

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quinta-feira, 22 de julho de 2021

Lenda ou amigo?

 


Perder um amigo é um saco. Algo chato demais. Não ver mais aquele sorriso ao te encontrar, não bater um papo tomando um café ou uma cerveja ou simplesmente um comentário engraçado em uma rede social.

Conheci  Artur Bragantini nas revistas 4 rodas que meu pai trazia para casa. Edições antigas onde ele pegava os modelos dos estofados dos carros que ele iria reformar. No meio de matérias mostrando um ainda jovem Nelson Piquet e um Emerson Fittipaldi já se preparando para deixar a Europa, as matérias nacionais traziam nomes os quais eu pensava do porquê não terem chegado À Fórmula 1 (como se isso tivesse alguma importância, eu descobriria ao longo dos anos). E eram os caras que realmente eu tinha vontade de ser um dia. Um que me chamava muito a atenção era um tal de Artur Bragantini. Fora suas vitórias, suas declarações sempre mostraram um comprometimento fora do comum. A maior parte de suas conquistas haviam sido antes de eu nascer. O homem foi uma lenda da Fórmula Ford. Simplesmente chegou a ser campeão invicto. Consegue imaginar?

Os anos se passaram e seu nome havia desaparecido destes veículos de comunicação. Pensava no que teria acontecido com ele. Até que vi seu sobrinho André correndo. E o via de vez em quando nos boxes do sobrinho. Mais ou menos nessa época, me tornei “bandeirinha” no autódromo de Interlagos e sim: O homem ainda estava por lá pilotando, e havia se tornado professor de grandes pilotos que passaram por nosso automobilismo. Acabei encontrando-o em uma rede social, o adicionei e disse o quanto sua carreira era inspiradora. Ele agradeceu as palavras, e mantivemos contato por lá.

Um dia, por conta de problemas com o esporte a motor no Brasil, algumas pessoas resolveram se reunir para discutir a situação. Eu estava lá. Entre pilotos, dirigentes, comissários... e foi no balcão de uma padaria próxima ao autódromo de Interlagos, enquanto eu conversava com meu amigo “Gepeto”, senta-se ao meu lado um homem que me era familiar, me estende a mão e me pergunta: “Você é o André? Prazer, Artur”.  Ele estava com sua esposa Ãndrea, uma pessoa não menos agradável e simpática. Ficamos os 4 conversando durante um bom tempo. E nos encontramos mais algumas vezes naquela padaria tão paulistana.

Por mais que já fôssemos amigos, nunca perdi aquela admiração quase infantil que tive pelo Artur. Eu o via como alguém que eu gostaria de ser, não como piloto campeão, mas como ser humano. Um cara de bem com a vida que não deixava os problemas estragarem seu dia. Bem resolvido com a vida, sempre tratando dos infortúnios com uma rara lucidez. Conversava sobre automobilismo, religião, vida e morte. E tudo isso com uma serenidade capaz de acalmar os mais ansiosos.

Ontem me deparei com a notícia desagradável de seu falecimento. Sua esposa nos informava sobre sua situação já havia alguns dias, quando foi internado por conta de DPOC e teve o quadro agravado por uma pneumonia bacteriana. Esperávamos o melhor, claro. Mas logo depois da notícia, me veio à lembrança algo que ele me disse uma vez: “A morte é uma bênção. Nós é que não temos a consciência disso”.

Para mim, a bênção foi tê-lo como amigo, um grande ser humano para ter como referência. Fica, mais do que a saudade, o legado deixado por ter sido um grande exemplo para quem o conheceu. Vá em paz, amigo!

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Muito obrigado, até breve


Nesses mais de 30 anos em que acompanho o automobilismo, vi muitas coisas. Fosse por meio da TV, revistas, jornais ou ao vivo, confesso que ri, chorei, vibrei e comemorei. Mas foi nessa última década que pude acompanhar tudo mais de perto, sobretudo dentro do templo da Zona Sul. Vi muito mais coisas do que as câmeras podem captar, aprendi que meros comentários de narradores e comentaristas nem sempre refletem situações reais, entrevistas não mostram verdadeiros caráteres e apresentadores carismáticos podem ser pessoas intragáveis. Mas a partir de 2007 pude comprovar tudo isso e muito mais.
Coincidentemente, consegui conquistar o objetivo de trabalhar dentro das pistas no auge de Felipe Massa na F1, o que posso considerar um privilégio. Não somente por seu desempenho a bordo da Ferrari, mas pelo fato de naquele momento, o nosso automobilismo apresentar uma riqueza tão grande na quantidade e qualidade das categorias nacionais. Só na Stock Car havia 4 categorias, tínhamos o Trofeo Maserati, a GT3, Copa Clio e o presidente da CBA não era um cretino com interesse apenas em seu bolso e em cabidaços que nos levariam para o buraco.
No auge de tudo isso, entramos na pista naquele início de novembro de 2008 para vivermos um dia fantástico. Quando parei o carro de Felipe Massa para comemorar seu título e ele olhou para mim com lágrimas nos olhos balançando a cabeça, eu não sabia do que ele tinha sido avisado pelo rádio. Mas tudo bem, é a vida. Não seria naquele dia que eu veria minha Ferrari sendo campeã de pilotos, mas a vi sendo campeã de construtores, em um final para lá de dramático, como poucas vezes veríamos na história da Fórmula 1. E não há dia em que não me lembre do momento histórico o qual presenciei.
Muitas coisas aconteceram ao longo desses 8 anos, tanto no nosso automobilismo quanto na carreira de Massa. Um acidente quase fatal, um talentoso companheiro de equipe que levou o patrocinador principal ao time, a despedida da Ferrari e lampejos brilhantes a bordo de uma Williams, bem como uma coleção de péssimos resultados. Mas talvez nada tenha sido tão duro quanto saber de um resultado manipulado que mudaria aquele resultado de 2008. Mas sempre que perguntado a respeito de como teria sido 2008 e também sobre os erros da equipe, ele não se acanhava em dizer que não fosse pelos próprios erros, não teria faltado aquele ponto.
Por diversas vezes, Massa foi um piloto duro na disputa. Que o diga Robert Kubica, com quem travou um duelo épico ao final do encharcado GP de Fuji em 2007. Mas deslealdade não houve. Não fechou o companheiro em uma luta pelo título e correu para a torre de Suzuka para pedir sua punição. Nem trocou o freio pelo acelerador no final da reta de Suzuka. Não jogou o carro em cima do adversário em Adelaide ou Jerez. Foi injustiçado, talvez tenha sido injusto em algumas reclamações, mas sempre respeitou companheiros e colegas de trabalho.
Em uma Fórmula 1 que não foi a que sonhou em estar um dia, os objetivos tiveram que mudar um pouco. Com apenas uma equipe capaz de vencer corridas, foi-se perdendo o prazer de entrar na pista. Foram uma pole e alguns pódios. Muito pouco para motivar alguém de 35 anos a continuar. E veio a decisão. F1 não mais. Era hora de repensar a carreira. A decisão causou o choro da chefe de equipe, declarações dos colegas lamentando sua saída, mas a decisão estava tomada.
E tinha que ser aqui, em Interlagos, 10 anos depois de um de seus finais de semana mais brilhantes, que tudo tinha que acontecer do jeito mais errado o possível. Um temporal, a curva do café e o Guard Rail.  Eu não estava lá como há 8 anos, mas no momento em que ele desceu do carro e pegou a bandeira, me lembrei daquele dia, vendo as lágrimas em seus olhos. Lembrei dos momentos que vivi naqueles dias, aquele final de ano onde parecia que nosso automobilismo voltaria ao seus dias de glória. Nas esperanças para 2009, onde tudo acabou dando errado. Na sua tentativa de trazer uma categoria de base apoiado em sua relação com a Fiat e com o Santander. Me senti triste ao vê-lo subindo a pé para os boxes depois de tantas batalhas.
Foi aí que aconteceu. Quando os mecânicos das equipes começaram a sair dos boxes para o aplaudirem de pé, me dei conta da dimensão que Felipe alcançou no automobilismo. Felipe foi muito mais do que aquele ponto que faltou em 2008. Muito mais do que aquela mangueira presa no carro, muito mais do que ordens via rádio. Felipe foi muito mais do que as críticas da torcida. Aquele foi o momento de alguém que realizou quase todos os seus objetivos. De alguém que não venceu o campeonato mundial, mas cujo caráter o impediu de sujar sua própria memória em troca disso.

Mesmo com tudo isso, Felipe não terá filmes em sua homenagem. Ele abriu caminho em seu próprio quintal para seu companheiro ser campeão. Sobreviveu a um grave acidente. Deu alegrias a muitos, foi criticado por outros. Mesmo assim, conseguiu o respeito daqueles a quem o cercavam. Tentou impulsionar nosso automobilismo. Quase colocou Interlagos abaixo por duas vezes. Derrotou Michael Schumacher em igualdade de condições. Rodou na chuva, na curva do Café. Voltou a pé para os boxes. E a Fórmula 1 o aplaudiu de pé.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

E se?


Na história do automobilismo existem muitos “se”. Aquelas lacunas, as reticências de algo que não se concluiu, a história onde um ponto final abrupto permitiu reflexões e pensamentos. E hoje faz exatamente 15 anos que assisti a um desses episódios onde depois me perguntei “e se?”.
Era uma bela tarde de sol na Califórnia, a CART se preparava para sua penúltima etapa.  A categoria vinha em um clima não muito bom, pois pouco mais de um mês antes, vira uma jovem promessa uruguaia perder a vida depois de uma falha mecânica. Gonzalo Rodriguez teve o acelerador travado em plena Corckscrew em Laguna Seca e foi catapultado para um barranco, acidente ao qual não sobreviveu. Gonzalo faria sua segunda corrida pela Penske, que trabalhava a fim de se recuperar de uma sequência de temporadas ruins. O velho Roger substituía seus chassis próprios pelos renovados Lola, a fim de alcançar melhores resultados. E veio este golpe.
A morte de Gonzalo chocou a todos. Ele disputava a antiga Formula 3000 e iniciava sua carreira no automobilismo de elite. Carismático, possuía muitos amigos, e sua perda foi sentida. Faltavam 4 corridas para o fim da temporada quando seu carro voou barranco abaixo, e em Fontana, na prova final, todos procuravam esquecer, alguns focados na disputa do título e outros já focados na próxima temporada. Entre estes, a Penske.
Depois de duas temporadas extremamente ruins e do golpe da morte de Gonchi, Roger penske estava determinado a dar a volta por cima. Para a temporada seguinte, iria usar o imbatível conjunto Reynard – Honda – Firestone. E para completar o projeto, contratou dois dos melhores disponíveis do Mercado, O brasileiro Gil de Ferran e o canadense Greg Moore. Morre era conhecido por seu arrojo e talento. Com apenas 24 anos, já colecionava vitórias e boas exibições. E todos já o consideravam grande favorito para o ano seguinte.

O fim de semana de Fontana não havia começado bem para Moore. Em um acidente com uma Scooter, sofreu ferimento em uma das mãos e a equipe Forsythe chegou a chamar Roberto Moreno para substituí-lo. Mas na última hora, os médicos liberaram Moore, que foi para a pista mesmo sem estar em total condição. E mesmo assim, estava andando acima do limite.
Moore vinha muito rápido. Tanto que a equipe pediu para ele ter um pouco de calma. Sua resposta? “Ok, estou me divertindo!”. Na nona volta, a diversão acabou. Até hoje ninguém soube explicar o porquê. Talvez tenha sido o ferimento na mão, quem sabe? O fato é que seu carro escapou a mais de 300 por hora e se chocou violentamente contra o muro interno da pista. A batida foi terrível. O carro despedaçado capotou várias vezes. Moore foi retirado do carro e os médicos lhe aplicaram massagem cardíaca. Meia hora depois, a confirmação d que o esforço havia sido em vão. Aos 24 anos, acabava a história de Moore.

Para seu lugar, a equipe contratou o brasileiro Hélio Castroneves, que permanece na equipe até os dias de hoje. Nos dois anos seguintes à morte de Moore, o time foi campeão pelas mãos de Gil de Ferran. Foram vários títulos na IRL e na Indy reunificada desde então, além de vitórias na Indy 500 (3 pelas mãos de Hélio, que substituiu o canadense). Diante dos números, paro para penas e me pergunto: E se? E se Greg Moore tivesse deixado o carro nas mãos de moreno naquele fim de semana? E se ele tivesse tido nas mãos aquele time Penske? E se sua vida não tivesse acabado abruptamente naquele terrível choque? E se ele não tivesse tido o acidente na Scooter?

Mais uma vez, a história ficou incompleta. Várias perguntas, nenhuma resposta. O fato é que naquele 31 de outubro muita coisa se perdeu. A traumática cena do resgate de Greg Moore volta e meia me vem a cabeça. Fico pensando como estaria Greg Moore aos 39 anos, e o merecido sucesso que talvez tivesse alcançado, bem como Gonzalo Rodriguez. Não consigo responder. Por que à vezes, meu esporte favorito é também o mais ingrato de todos os esportes. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O legado de Dan


E lá se vão 3 anos daquele trágico início de noite de domingo. Na volta 13 de uma corrida onde Dan Wheldon participaria apenas por ter vencido as 500 Milhas de Indianapolis. Uma corrida, aliás, vencida acidentalmente por um grande piloto que não estava correndo naquela temporada, e sim, desenvolvendo o chassis Dallara (posteriormente chamado de DW12 em sua homenagem) para a temporada seguinte. Um carro mais seguro e feito para evitar decolagens. E foi em uma dessas decolagens que tudo aconteceu.
Dan Wheldon era um caso raro no automobilismo. Amigo de todos os companheiros de trabalho, um tremendo bom caráter e piloto acima da média.Embora inglês, fez uma bem sucedida carreira no automobilismo americano. Campeão pela Andretti em 2005, venceu também a Indy 500 daquele ano. Depois disso, foi para a Chip Ganassi, onde não obteve grandes resultados, indo depois disso para a equipe Panther. Depois de 2010, deu uma pausa, voltando apenas para correr a Indy 500 de 2011, pela Bryan Herta Motorsports, onde venceria na última curva, após uma barbeiragem do líder da prova, J.R. Hildebrand, que curiosamente ocupava o cockpit deixado vago por Wheldon naquela temporada. Essa vitória credenciou Wheldon para correr em Las Vegas, onde teria a chance de ganhar um prêmio milionário. E todos sabemos o que aconteceu.
Em um dos momentos mais comoventes do automobilismo, ao receberem a notícia de que Wheldon havia falecido, os pilotos começaram a chorar e prestaram uma última homenagem, voltando aos seus carros e dando cinco voltas lentas pela pista, acompanhando o Pace Car, em uma corrida que não aconteceu mais.
Dan Wheldon acabou deixando um grande legado na Indy Car. O chassis desenvolvido por ele evitou duas mortes, mesmo após acidentes impressionantes. O primeiro ocorrido com seu grande amigo dario Franchitti, no final da temporada passada. Franchitti teve de encerrar a carreira, porém sobreviveu a um acidente impressionante, bem como o russo Mikhail Akeshin, que sofreu um choque violento em Fontana, e mesmo após algumas semanas no hospital, sobreviveu e está bem. As mortes infelizmente fazem parte do automobilismo. Ajudam a tornar não só o esporte mas também nossos carros de rua mais seguros. Mas deixam uma dor e uma saudade sem tamanho. Só não superam o tamanho do talento e carisma de Dan.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Irresponsabilidade crônica


Todos sabiam que as condições de corrida para o GP de Suzuka não seriam as ideais. Havia até mesmo previsão de um tufão para o dia da corrida. Cogitou-se o adiamento ou adiantamento da corrida para sábado. Mas FIA, FOM e outros "F's"  se opuseram, como fazem com tudo o que diz respeito a bom senso e segurança. Imagine o prejuízo que isso poderia acarretar? Mudar o horário da corrida, para os europeus terem que acordar mais cedo? Jamais! Deixa largar às 15 horas, em condições péssimas e ver no que dá. E deu no que deu. Um trator em uma área de aquaplanagem (procedimento que a FIA adotou há mais de 10 anos), visibilidade zero e Jules Bianchi em uma situação que tem tudo para ser irreversível.
A irresponsabilidade da FIA nos remete há 20 anos, quando resolveu manter o GP de San Marino mesmo depois do acidente de Rubens Barrichello na sexta, e se manteve impassível após a morte de Roland Ratzemberger. No domingo a situação estava ainda mais desfavorável.Felipe Massa gritou pelo rádio para que a prova fosse interrompida. Poucas voltas depois, o carro de Bianchi estava debaixo de um trator, em um momento onde o Safety Car seria mais do que necessário. Aí sim, veio a bandeira vermelha. Primeiro a tragédia, depois a intervenção. Exatamente nessa ordem.
A FIA exige uma segurança absurda (e imprescindível) nos carros, faz cidades reconstruírem seus autódromos em nome da modernidade e colocam um trator na pista sem acionarem nenhuma medida mais cautelosa em um GP que tinha tudo para ser acidentado. Seguindo a lógica, é mais seguro um trator em uma área de escape do que outro carro lá parado. No mínimo, uma falta de bom senso.
Segundo as notícias recentes, a situação de Bianchi tem grande percentual de chances de se tornar irreversível, ainda que ele sobreviva. Na melhor das hipóteses, sua carreira está encerrada após mais esse ato irresponsável de FIA e FOM. Sem esquecer também de que Maria de Villota morreu em decorrência de um acidente semelhante (embora a FIA negue o fato, a família confirmou que sua morte foi em decorrência dos ferimentos sofridos no acidente).
O que nos consola, nisso tudo, é que a FIA adotou uma postura politicamente correta. Propagandas de cigarro são proibidas, ao contrário de bebidas alcoólicas (já que essas não causam acidentes de trânsito), os carros estão mais verdes e os custos estão reduzidos. Bianchi provavelmente fará parte de um grupo onde se englobam nomes como Martin Donnelly, que aparecem depois de anos com suas sequelas, quando todos já tiverem esquecido do ocorrido. E assim, a Formula 1 segue seu rumo natural, sem nenhuma intervenção do Safety Car.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Corrida da vovó


Como todos já havíamos previsto, foi o circo da F1 deixar os obsoletos circuitos europeus e a categoria voltou a ser aquela chatice própria da fase asiática, como carros desfilando nas posições de largada e avançando conforme a estratégia. E, claro, pneus e problemas mecânicos/eletrônicos influenciando (ou melhor, ditando) os resultados finais. Esperava-se mais do que Hamilton vencendo Rosberg do que por um problema no volante. Esperava -se também mais ação, e não uma punição para Vergne por ter quase sido jogado para fora por Maldonado e ainda assim conquistado a posição em uma bela manobra.
O maior destaque da prova talvez tenha sido a entrevista de Felipe Massa após a corrida. Após um louvável quinto lugar em um final de semana que começou cheio de problemas, terminando a corrida com um pneu de quase quarenta voltas, Felipe admitiu que após ser informado pelo engenheiro de que teria que fazer um stint de trinta e oito voltas com aqueles pneus, passou a "dirigir como uma vovozinha". Talvez Felipe tenha descrito aí o que se torna a Formula 1 quando chega a esses modernos e inovadores circuitos que passaram a fazer parte da categoria desde a década passada.
A Formula 1 mostra também uma tentativa de deixar o público mais próximo, com invasões de pista no final da corrida tal como acontece ao final de cada GP em Monza, ou como já aconteceu em pistas como Silverstone e Brands Hatch.mas é difícil tentar impor tradição em países onde o automobilismo não faz parte da cultura ou da história, como em países da Europa ou até mesmo no Brasil. No próximo ano, a F1 aproveita a onda de pilotos mexicanos e volta a aportar em Hermanos Rodriguez. A má notícia? Com reforma sob a batuta de Hermann Tilke, sem a famosa Peraltada.
Talvez uma das grandes falhas da categoria nos últimos anos seja uma falha que ajudou a acabar com a antiga CART na década passada: buscar novos fãs e se esquecer de quem realmente era apaixonado pela categoria. Após tentar deixar de lado boas provas nos USA, fãs tradicionais torceram o nariz e a categoria se perdeu tentando conquistar na Europa um espaço que já era da Formula 1. A Formula 1, por sua vez, invade cada vez mais países sem público, pistas como Cingapura onde só há beleza e nenhuma emoção, ou pistas como a da Coréia, sem beleza nem emoção. sem falar da perda de identidade, sem permitir disputas mais acirradas e deixar de lado o laboratório de desenvolvimento que a categoria sempre foi. Aí, ponto para WEC e até mesmo para Formula E, que desenvolvem tecnologias que se tornarão im´prescindíveis em carros de rua (para quê serve o KERS mesmo?).
Nas últimas corridas, a FOM desceu um pouco do pedestal, retrocedeu em certos aspectos e a Formula 1 foi do jeito que todo mundo gosta. Voltou à sua forma moderna ontem e todo mundo chiou, mais alto do que o ronco dos motores. Está na hora de a categoria recuperar sua identidade. Afinal, em Monza ninguém reclamou de nada, nem mesmo do som dos motores. E pelo que vi as pessoas comentando sobre a Formula E, parece mesmo que o público quer muito mais do que carros barulhentos. Até minha vovozinha sabe.

domingo, 7 de setembro de 2014

Acima da expectativa


A etapa de Monza foi uma prova de que a Formula 1 não está tão ruim como muitos julgam. Pelo menos não durante a fase europeia (+ o GP do Canadá), disputados em circuitos obsoletos, onde Tilke não colocou a mão ou não consegui estragar por completo. Tudo começou hoje com uma largada ruim de Bottas e Hamilton, e boas largadas de Massa e Magnussen. Estava aí aramado o cenário de uma prova que seria marcada por grandes disputas, ultrapassagens e um erro que causou a Rosberg a liderança da prova. A prova de hoje mostrou que o domínio da Mercedes não tem sido do tipo que estraga uma temporada, muito pelo contrário. Remete a disputas como Villeneuve X Scheckter, Lauda X Prost, Mansell X Piquet, Senna X Prost e Villeneuve Filho X Hill filho. O domínio da Mercedes não se resume ao domínio de um piloto, abre espaços para brigas como vimos em Spa e erros como os de Monza. Situações que abrem espaço para um motivado e surpreendente Ricciardo, que não se apequenou diante do fato de ser um novato em uma equipe que conta com ninguém menos do que o atual tetracampeão. E que não se intimida ao encontrá-lo na pista (será por usar em seu capacete o número do famoso "Intimidator"?). Vimos uma Fórmula 1 onde novos talentos como Bottas, Magnussen e o já citado Ricciardo colocarem no bolso uma geração talentosa que conta com os desmotivados Alonso e Raikkönen, que não contam com um equipamento à altura, e também superam um Massa em fase de renovação, junto com um time que há muito não vê a glória mas nunca desiste de procurá-la. Enfim, se os motores não rugem como deveriam, as boas surpresas e disputas compensam essa deficiência. Só uma pena, uma pena mesmo, que na próxima fase do campeonato contemos com lugares como Índia, Coréia e Abu Dhabi, tão tradicionais no automobilismo como Snowboard no Brasil. O problema não são os locais em si, mas os traçados que não permitem cenas como Button e Pérez dividindo a Lesmo, Ou Magnussen dando um chega-para-lá em Bottas na primeira chicane. A falta da caixa de brita na Parabólica não tirou o brilho da corrida, e a temida primeira chicane pregou boas peças em Rosberg, que mostrou ali precisar de algo mais se quiser ser realmente campeão - e ele quer. Talvez agora fique um pouco mais difícil de mostrar se seu talento realmente será decisivo, em pistas onde se ganha mais por estratégia e menos por braço, já que não teremos Parabólicas, Eau Rouges ou Copses.
O fim da temporada europeia deixou aquele gostinho de quero mais. De saudade de um GP em Paul Ricard, da grande Parabólica do Estoril, das longas retas de Hockeinheim. A temporada europeia mostrou que dá para recuperar, sim, a competitividade e a emoção da Formula 1. E quem sabe a FIA resolva perceber o que os fãs de Formula 1 realmente querem: menos esquinas e mais curvas de verdade.