Perder um amigo é um saco. Algo chato demais. Não ver mais
aquele sorriso ao te encontrar, não bater um papo tomando um café ou uma
cerveja ou simplesmente um comentário engraçado em uma rede social.
Conheci Artur
Bragantini nas revistas 4 rodas que meu pai trazia para casa. Edições antigas
onde ele pegava os modelos dos estofados dos carros que ele iria reformar. No
meio de matérias mostrando um ainda jovem Nelson Piquet e um Emerson Fittipaldi
já se preparando para deixar a Europa, as matérias nacionais traziam nomes os
quais eu pensava do porquê não terem chegado À Fórmula 1 (como se isso tivesse
alguma importância, eu descobriria ao longo dos anos). E eram os caras que
realmente eu tinha vontade de ser um dia. Um que me chamava muito a atenção era
um tal de Artur Bragantini. Fora suas vitórias, suas declarações sempre
mostraram um comprometimento fora do comum. A maior parte de suas conquistas haviam
sido antes de eu nascer. O homem foi uma lenda da Fórmula Ford. Simplesmente
chegou a ser campeão invicto. Consegue imaginar?
Os anos se passaram e seu nome havia desaparecido destes
veículos de comunicação. Pensava no que teria acontecido com ele. Até que vi
seu sobrinho André correndo. E o via de vez em quando nos boxes do sobrinho.
Mais ou menos nessa época, me tornei “bandeirinha” no autódromo de Interlagos e
sim: O homem ainda estava por lá pilotando, e havia se tornado professor de
grandes pilotos que passaram por nosso automobilismo. Acabei encontrando-o em
uma rede social, o adicionei e disse o quanto sua carreira era inspiradora. Ele
agradeceu as palavras, e mantivemos contato por lá.
Um dia, por conta de problemas com o esporte a motor no
Brasil, algumas pessoas resolveram se reunir para discutir a situação. Eu
estava lá. Entre pilotos, dirigentes, comissários... e foi no balcão de uma
padaria próxima ao autódromo de Interlagos, enquanto eu conversava com meu
amigo “Gepeto”, senta-se ao meu lado um homem que me era familiar, me estende a
mão e me pergunta: “Você é o André? Prazer, Artur”. Ele estava com sua esposa Ãndrea, uma pessoa não
menos agradável e simpática. Ficamos os 4 conversando durante um bom tempo. E
nos encontramos mais algumas vezes naquela padaria tão paulistana.
Por mais que já fôssemos amigos, nunca perdi aquela
admiração quase infantil que tive pelo Artur. Eu o via como alguém que eu
gostaria de ser, não como piloto campeão, mas como ser humano. Um cara de bem
com a vida que não deixava os problemas estragarem seu dia. Bem resolvido com a
vida, sempre tratando dos infortúnios com uma rara lucidez. Conversava sobre
automobilismo, religião, vida e morte. E tudo isso com uma serenidade capaz de
acalmar os mais ansiosos.
Ontem me deparei com a notícia desagradável de seu
falecimento. Sua esposa nos informava sobre sua situação já havia alguns dias,
quando foi internado por conta de DPOC e teve o quadro agravado por uma
pneumonia bacteriana. Esperávamos o melhor, claro. Mas logo depois da notícia,
me veio à lembrança algo que ele me disse uma vez: “A morte é uma bênção. Nós é
que não temos a consciência disso”.
Para mim, a bênção foi tê-lo como amigo, um grande ser
humano para ter como referência. Fica, mais do que a saudade, o legado deixado
por ter sido um grande exemplo para quem o conheceu. Vá em paz, amigo!
Que belo texto, emocionante e verdadeiro, nas palavras de um fã. Parabéns!
ResponderExcluir