Como já falei aqui, morar em São Paulo nos traz experiências incríveis, como poder fazer parte de corridas como Formula 1 e IndyCar (por aqui chamada de Fórmula Indy). Para quem está nos bastidores, um misto de correria, cansaço, expectativas e muitas outras emoções que são impossíveis de sentir mesmo quando se acompanha da arquibancada, o mais próximo que a maioria do público consegue chegar. Ouvir os motores roncando na garagem durante um briefing da sinalização na sexta-feira já fazia a expectativa crescer, e a emoção toma conta até mesmo de quem já está há tanto tempo acompanhando as corridas de perto. James Swintal, responsável pela sinalização da IndyCar, explica sobre os novos motores, e enquanto um dos motores turbo ronca, ele diz: "Motores turbo, som de carro de corrida de verdade", e sou obrigado a concordar, mesmo que me agrade o som agudo e metálico do Ferrari F1. Mas ouvir aquele Chevrolet biturbo realmente arrepia qualquer apaixonado por automobilismo.
Entre atividades de pista e passeio pelos boxes, nota-se a diferença clara entre F1 e Indy: a ausência da pressão desumana da categoria magna do automobilismo mundial. Quem encontrasse qualquer um dos pilotos na pista ou nas garagens, podia sentir um automobilismo diferente, mais puxado para aquela época romântica em que os pilotos carregavam seus mecânicos até a garagem (no caso da Indy ainda o fazem em carrinhos de golfe) ou esbarram em você cumprimentando-o com um grande sorriso no rosto. A impressão que se tem é de que realmente tudo está sendo feito com paixão, e não somente como negócio, embora este ainda prevaleça e seja o principal combustível do automobilismo.
A ausência de pressão e o excesso de paixão emocionam Ernesto Viso enquanto a torcida grita o nome de Rubens Barrichello, durante o desfile dos pilotos antes da corrida. Rubens, aliás, parece simplesmente surpreso ao sentir a torcida tão perto. Passa o final de semana com uma calma que jamis pôde sentir em 18 anos de GP's do Brasil de Formula 1. Tem tempo para tirar fotos, conversar e, enfim, aproveitar a carreira, ao lado do grande amigo Tony Kanaan, com quem tem aprendido muito bem a arte de se relacionar na Indy.
Dessa vez, alguém indesejável não aparece na hora da corrida: a chuva. Ela deu as caras no Warm up e quase fez com que a corrida acontecesse mais cedo, mas por volta das 10 da manhã, resolveu deixar todos em paz e a corrida aconteceu sob céu nublado mas, felizmente, tempo seco.
Acompanhou-se mais uma corrida perfeita de Will Power, boas apresentações de Rubinho e de Tony Kanaan, prejudicados no final por um erro de estratégia muito comum da KV Racing (que tirou a vitória de takuma Sato em 2011) e uma corrida soberba de Dario Franchitti e Helio Castroneves, que em perfeita sintonia com seus times conseguiram terminar no Top 5 mesmo depois de andarem lá atrás.
No pódio, teria sido bem vindo um abridor de garrafas, o que deu um toque hilário no final da corrida, mas foi logo resolvido.
Voltando para o galpão, encontro no caminho uma asa perdida do carro de Charlie Kimball. Pego-a, porém não pretendo levá-la como souvenir. Procuro o time do pit lane e devolvo aos mecânicos. Enquanto um deles agradece, um deles me chama e me atira algo como agradecimento. Um boné do time que ele tirou do meio de uma caixa onde estão uniformes e acessórios. Sorrindo, ele me diz "a cap". Fiquei feliz, afinal, também faço parte da Indy. Infelizmente a festa acabou em São Paulo, e no caminho de casa a chuva aparece. A Indy se foi, e a cidade volta a seu ritmo normal. Volto para casa para curtir minhas férias, levando grandes lembranças e ansioso pela próxima SP Indy 300, nossa grande festa americana.