Na história do automobilismo existem muitos “se”. Aquelas
lacunas, as reticências de algo que não se concluiu, a história onde um ponto
final abrupto permitiu reflexões e pensamentos. E hoje faz exatamente 15 anos
que assisti a um desses episódios onde depois me perguntei “e se?”.
Era uma bela tarde de sol na Califórnia, a CART se preparava
para sua penúltima etapa. A categoria
vinha em um clima não muito bom, pois pouco mais de um mês antes, vira uma
jovem promessa uruguaia perder a vida depois de uma falha mecânica. Gonzalo
Rodriguez teve o acelerador travado em plena Corckscrew em Laguna Seca e foi
catapultado para um barranco, acidente ao qual não sobreviveu. Gonzalo faria
sua segunda corrida pela Penske, que trabalhava a fim de se recuperar de uma
sequência de temporadas ruins. O velho Roger substituía seus chassis próprios
pelos renovados Lola, a fim de alcançar melhores resultados. E veio este golpe.
A morte de Gonzalo chocou a todos. Ele disputava a antiga
Formula 3000 e iniciava sua carreira no automobilismo de elite. Carismático,
possuía muitos amigos, e sua perda foi sentida. Faltavam 4 corridas para o fim
da temporada quando seu carro voou barranco abaixo, e em Fontana, na prova
final, todos procuravam esquecer, alguns focados na disputa do título e outros
já focados na próxima temporada. Entre estes, a Penske.
Depois de duas temporadas extremamente ruins e do golpe da
morte de Gonchi, Roger penske estava determinado a dar a volta por cima. Para a
temporada seguinte, iria usar o imbatível conjunto Reynard – Honda – Firestone.
E para completar o projeto, contratou dois dos melhores disponíveis do Mercado,
O brasileiro Gil de Ferran e o canadense Greg Moore. Morre era conhecido por
seu arrojo e talento. Com apenas 24 anos, já colecionava vitórias e boas
exibições. E todos já o consideravam grande favorito para o ano seguinte.
O fim de semana de Fontana não havia começado bem para
Moore. Em um acidente com uma Scooter, sofreu ferimento em uma das mãos e a
equipe Forsythe chegou a chamar Roberto Moreno para substituí-lo. Mas na última
hora, os médicos liberaram Moore, que foi para a pista mesmo sem estar em total
condição. E mesmo assim, estava andando acima do limite.
Moore vinha muito rápido. Tanto que a equipe pediu para ele
ter um pouco de calma. Sua resposta? “Ok, estou me divertindo!”. Na nona volta,
a diversão acabou. Até hoje ninguém soube explicar o porquê. Talvez tenha sido
o ferimento na mão, quem sabe? O fato é que seu carro escapou a mais de 300 por
hora e se chocou violentamente contra o muro interno da pista. A batida foi
terrível. O carro despedaçado capotou várias vezes. Moore foi retirado do carro
e os médicos lhe aplicaram massagem cardíaca. Meia hora depois, a confirmação d
que o esforço havia sido em vão. Aos 24 anos, acabava a história de Moore.
Para seu lugar, a equipe contratou o brasileiro Hélio Castroneves,
que permanece na equipe até os dias de hoje. Nos dois anos seguintes à morte de
Moore, o time foi campeão pelas mãos de Gil de Ferran. Foram vários títulos na
IRL e na Indy reunificada desde então, além de vitórias na Indy 500 (3 pelas
mãos de Hélio, que substituiu o canadense). Diante dos números, paro para penas
e me pergunto: E se? E se Greg Moore tivesse deixado o carro nas mãos de moreno
naquele fim de semana? E se ele tivesse tido nas mãos aquele time Penske? E se
sua vida não tivesse acabado abruptamente naquele terrível choque? E se ele não
tivesse tido o acidente na Scooter?
Mais uma vez, a história ficou incompleta. Várias perguntas,
nenhuma resposta. O fato é que naquele 31 de outubro muita coisa se perdeu. A
traumática cena do resgate de Greg Moore volta e meia me vem a cabeça. Fico
pensando como estaria Greg Moore aos 39 anos, e o merecido sucesso que talvez
tivesse alcançado, bem como Gonzalo Rodriguez. Não consigo responder. Por que à
vezes, meu esporte favorito é também o mais ingrato de todos os esportes.