Bem, você acorda 3 da manhã para chegar no autódromo às 5. A estrutura é precária, não dá para ser diferente. Você fica exposto ao tempo, passa por briefings intermináveis. Têm os malditos eventos de suporte, malditos eu digo porque sujam uma pista que você terá que limpar, com suas escapadas, motores estourados e pedaços de borracha. Mas você não está nem aí, está lá para trabalhar quase a troco de nada (no caso da F1 nada mesmo) com um lanche que não é nenhuma Brastemp. Às vezes se pergunta por que está fazendo aquilo, mas vive experiências incríveis, enche seu Facebook de fotos na segunda-feira, mostra no trabalho com todo orgulho e guarda lembranças para para toda uma vida. É o que você escolhe quando resolve ser fiscal de pista, para ficar do lado da pista concentrado com o rádio no ouvido para tentar não deixar nada passar em branco, acionar a bandeira no momento exato, tornar a corrida segura na medida do impossível, para muitas vezes ainda ouvir reclamação de piloto, como Rubens Barrichello fez comigo em 2008 por não concordar com uma bandeira azul quando na saída do box quase deixou a Ferrari de Raikkönen encher sua traseira. Mas, paciência, você está lá para isso, já que não pode estar dentro do carro quer participar da corrida de alguma forma, não apenas assistir.
Aí acontece uma corrida lá no Canadá, um descuido com um rádio e uma tragédia. Uma vida se perdeu, não foi a de Gilles Villeneuve nem a de Ayrton Senna. Não haverá comoção mundial, o corpo não atravessará uma cidade sobre um caminhão de bombeiros, aliás, qual era mesmo seu nome?
O descaso com o qual quem está ali simplesmente por paixão, fazendo a corrida de caso acontecer, fica visível no acontecimento de ontem em Montreal. Provavelmente ele foi orientado a tomar o máximo de cuidado com seu equipamento, que jamais poderia ser esmagado por um trator. O preço foi mais alto do que um Radio Kenwood, mas no próximo GP os fiscais estarão lá, trabalhando de graça, com total descaso, tudo para poderem dar uma volta nos boxes e poder tirar algumas sacrificadas fotos. São vidas que não têm muito valor no mundo milionário do automobilismo, embora se dediquem ao esporte muito mais do que quem ganha milhões por estar lá. Paciência. Talvez para alguns de nós estar em um autódromo valha mais do que um punhado de mangos. Pena que para os organizadores, as vidas não valham tanto. E minhas condolência a mais um herói anônimo, que mesmo não sendo piloto, aumentou as tristes estatísticas do automobilismo, mas que depois de amanhã será esquecido.
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