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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Luz apagada



O automobilismo nem sempre é um esporte justo. Não é como tênis ou atletismo, onde um atleta depende 100% de si para se destacar. Um carro acima ou abaixo da média pode deturpar o real potencial de um piloto, e não é incomum vermos pilotos apenas um pouco acima da média serem chamados de gênios (vide Fernando Alonso) e vermos gênios serem considerados apenas bons pilotos (como Kimi Raikkönen e Sebastian Vettel). Tudo stá no interesse em que a mídia tem em explorar aquele que dá mais audiência ou vende mais jornal, seja por talento ou por polêmica, isso não importa. E hoje fico pensando: será que quando não considerei Schumacher como a mídia pintava eu estive errado?
Claro que os números jogam contra mim. Em sua época de ouro, foi colocado em um patamar acima de Ayrton Senna e Jim Clark. Foram 94 vitórias, mas até hoje não me lembro de uma exibição como aquela de Jim em Monza ou de Senna em Donington, derrotando, entre outros, o próprio Schumacher. Lembro-me dos elogios rasgados após seu pentacampeonato, mas sempre teve aquele que discordou. Hoje, me sinto mais à vontade para dizer coisas que pensava há dez anos.
Schumacher sucedeu 4 pilotos que de 1981 a 1993 venceram quase todos os mundiais (sequencia quebrada apenas por um certo Niki Lauda em 1984). Aos poucos eles foram se retirando, até o acidente fatal de Ayrton Senna em 1994 culminar com o fim dessa era. Não havia teoricamente na pista um piloto sequer que tivesse um talento destacado (apenas Karl Wendliger que já havia competido com o alemão, mas um acidente 15 dias depois da morte de Ayrton selou seu destino na F1). Mika Hakkinen estava apagado devido a uma fraca McLaren, mas de qualquer modo era o tipo de piloto que não chamava a atenção dos jornais. Conclusão: Schumacher e a Benetton ganharam o título usando de diversas irregularidades, e mesmo assim ele teve que jogar o carro em cima de Damon Hill para ser campeão após um erro primário. Mas para a mídia, foi uma manobra corajosa.
No ano seguinte um título legítimo, e depois sofreu até conseguir seu primeiro título pela Ferrari, perdeu mundiais para Hill, Villeneuve e Hakkinen, e só passou a dominar a categoria quando este último decidiu que não queria mais correr grandes riscos. A partir daí, as coisas não foram tão difíceis para Schumacher, que pilotava o melhor carro da F1 e tinha um companheiro que não tinha autorização para destroná-lo. E sempre fiquei na dúvida: será que se Rubinho tivesse liberdade, a coisa não seria diferente?
Quando faltou o melhor carro, Schummy sumiu da briga. Em 2005 teve um desempenho apenas mediano, e em 2006 ficou claro que podia ser derrotado, após a chegada de Felipe Massa. Tomou a decisão certa e se retirou, não no auge mas ainda competitivo. Ou seria por uma equipe competitiva?
Em 2010 Schummy viu uma chance de ouro: Pegou uma equipe oriunda da meteórica Brawn, a equipe de maior sucesso na história. Um time que praticamente sem orçamento destruiu a concorrência em 2009 e foi adquirida pela Mercedes com recursos astronômicos. E se aquela era a continuação da Brawn, só que com um caixa respeitável, claro que Schummy viu a chance de repetir os feitos de 2002 e 2004. Caiu do cavalo. O desempenho pífio o empurrou para fora da F1 de maneira melancólica e de certa forma vergonhosa, com muitas portas fechadas.
Quem vê Schumacher acertando a traseira dos adversários pode estranhar, mas a verdade é que o alemão não mudou nesses 21 anos. Em seu início de carreira ele causava tantos acidentes como hoje. Um exemplo clássico foi o strike na largada do GP de Magny Cours de 1992, quando Ayrton Senna o chamou de idiota. Claro que ele era rápido, sem dúvida, o que fez com que Flavio Briatore o lapidasse e oferecesse recursos para transformá-lo em um grande nome. Quando saiu das asas de Flavio foi inteligente para moldar a Ferrari da maneira que precisava, e somando o fato de que não teve bons adversários e teve o melhor carro nas mãos durante um bom tempo, aproveitou tudo isso a seu favor. Mas seu retorno acabou mostrando ao mundo que seus números foram mais uma questão de sorte em estar no local certo e na hora certa, o que não aconteceu em seu retorno. 10 anos atrás quando eu dizia que Schumacher não era tão bom assim me diziam que eu estava louco, e eu dizia que queria vê-lo em uma condição desfavorável para tirar a prova. A situação veio, e eu estava certo, assim como muitos outros.
Talvez Schummy tenha se inflamado com as opiniões da época, acreditou que era uma espécie de semideus insuperável e superestimou seu próprio talento. E em uma época como a de hoje, tão rica em talentos, não foi capaz de se sobressair em um carro médio, sendo derrotado até por seu companheiro de equipe (que não é nenhum gênio). Perdeu a oportunidade de permanecer como mito, e sempre que alguém exaltar seus números, terá como resposta “Não se esqueça de que quando ele voltou foi diferente”. Schummy saindo pela porta dos fundos nada mais é do que um sinal dos novos tempos, em que a F1 é um esporte de risco não tanto físico, mas sim de imagem. Um esporte onde muitas vezes o mito supera o homem, e em outras, o homem apaga o mito.

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