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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Nascido para ser campeão



Sei que já escrevi sobre Alessandro Zanardi na semana passada, mas depois do meu texto, ele conquistou mais duas medalhas, uma de prata e mais uma de ouro. Mas porque falo tanto de Zanardi se ele não é o único atleta paralímpico do mundo? É que os feitos de Alessandro impressionam (ou incomodam, dependendo do caso). 
O esporte que ele escolheu para sua vida, o automobilismo, é cruel. Pode te matar ou te enterrar vivo, sugando suas energias com pressão e cobrança a ponto de fazer-lhe sumir do mapa, como já aconteceu com tantos pilotos. Uma carreira sem sucesso na Formula 1, então, nem se fala. Aliás, até mesmo uma carreira de sucesso seguido de fracassos faz com que um piloto seja esquecido de uma hora para outra. Existem os ídolos de uma era, de um campeonato ou de apenas uma corrida. Promessas são jogadas no olho do furacão e são descartadas com a mesma intensidade, como aconteceu com Nelson Piquet Jr. O que esperaríamos então de alguém que foi ídolo na Indy/CART, fracassou na Formula 1, teve um mau retorno aos USA e teve suas pernas arrancadas em uma das cenas mais trágicas e dramáticas da história do automobilismo? Uma história talvez como a de Martin Donelly, que sofreu aquele famoso acidente nos treinos para o GP de Jerez de Formula 1 de 1990 ou uma como a de Karl Wendlinger, que se acidentou em Monte Carlo 15 dias após o acidente de Ayrton Senna. Uma história onde o acidente é mostrado em todas as redes de TV do mundo, e quando o piloto sai do hospital é apenas colocada uma pequena nota no rodapé de um jornal qualquer, uma vez que a recuperação não tem um impacto mercadológico como o de uma tragédia. Quando ele saiu do hospital em uma cadeira de rodas e com um abacaxi no colo, parecia que a história de Zanardi ficaria por ali. E teria ficado mesmo, se assim ele tivesse escolhido. Mas sua garra o determinou a escrever uma nova história. Foi como se ele tivesse nascido novamente, tendo que reaprender a viver e tendo que buscar novos desafios e motivações. Quem diria, voltou a pilotar e a vencer. Conheceu um novo esporte, e em 3 anos de muita dedicação se tornou, mais uma vez, o melhor do mundo em alguma modalidade. Chorou, riu, gargalhou, emocionou o mundo. E por que isso incomoda a alguns? Porque não podem olhar para ele com um olhar de falsa piedade e dizer “coitado”, com aquela superioridade de quem tem algo que falta ao outro. Não. Ele nos mostrou que a nós falta algo. Deu um tapa na cara de quem tem saúde para buscar um ideal e simplesmente diz que não teve uma oportunidade. Considera a perda das pernas um presente, enquanto alguns lamentam (e se suicidam) por dólares perdidos. Não foi à Londres para competir, mas para vencer. Agora busca uma nova motivação, vai cobrar de Jimmy Vasser o carro que este lhe prometeu para disputar a Indy 500 caso Zanardi levasse 1 ouro. Foram 2.
Em Londres Zanardi conquistou mais do que medalhas. Sem ter isso como objetivo, esfregou na cara do mundo que quando o ser humano quer, ele é capaz, assim como a delegação brasileira e suas 22 medalhas de ouro. Não fez mais do que qualquer outro atleta, mas mostrou que competir é muito mais do que lamentar a perda de um cockpit. Não foi aos jornais dizer “Eu sou capaz”. Preferiu mostrar que é, e a que veio ao mundo: Vencer. As dificuldades, as competições e, principalmente, seus limites. E à você, que está lendo e vai dizer que “Com o dinheiro que ele tem é fácil”, eu lhe pergunto: Você trocaria suas pernas pelo dinheiro dele?

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