Após fazer o post sobre Gilles Villeneuve, lembrando os 30
anos de sua morte, recebi alguns comentários no Facebook. Mas nenhum me chamou
tanto a atenção quanto ao do meu amigo Armando Ricardo Guedes. Armando
acompanha F1 desde os anos 70 e trabalha nas corridas há um bom tempo. Armando
comentou que Gilles “vestia o carro” como poucos o fizeram, e citou alguns
nomes de pilotos que fizeram história em determinadas equipes. Achei-me então
no direito de juntar mais alguns nomes, fiz algumas pesquisas e decidi falar
sobre as uniões mais perfeitas da história da Formula 1. E percebi que depois
de 60 anos, existem números muito mais impressionantes do que os 7 títulos de
Michael Schumacher...
Alberto Ascari +
Ferrari
Número de títulos continua sendo (equivocadamente) um
parâmetro para avaliar o talento de um piloto. Não que não seja importante, mas
também não pode ser considerado essencial. Quando se fala na Década de 50, logo
lembra-se do pentacampeão Juan Manuel Fangio. A verdade é que Fangio teve um
grande rival, o Supersticioso Alberto Ascari, ou Ciccio, como era conhecido
devido às suas formas arredondadas.
Ascari era filho de Antonio Ascari, piloto da década de 20
que morrera em ação, mas nem por isso se afastou das corridas. Juntou-se à
Ferrari ainda antes que o Mundial de Formula 1 existisse. Quando este passou a
existir, foi o 5º colocado na primeira edição, e vice de
Fangio em 1951. Mas em 1952, devido ao
regulamento, Fangio não participou oficialmente da Formula 1, além de sofrer um
grave acidente em Monza. Talvez tenha sido o ano mais impressionante de um
piloto na história da Formula 1: De todas as corridas disputadas, Alberto
perdeu apenas as 500 milhas de Indianapolis. Considerando que ele foi o único
da F1 a disputar a corrida (ela valia para o mundial mas os pilotos não eram os
mesmos que disputavam a F1), Alberto não perdeu NENHUMA das corridas que
contaram com a presença de seus reais adversários. Mas Fangio não estava na
pista, então foi isso o que permitiu que Alberto fosse campeão, certo? Errado. Ratificando
a boa fase, e dessa vez com Fangio na pista, Alberto venceu as 3 primeiras
provas do ano, perdeu apenas duas na Europa e levou a Italia à loucura. Foi a
última vez em que um italiano foi campeão da Formula 1, e Alberto foi o único a
conseguir o feito pela Ferrari, além de ser o primeiro bicampeão da história.
No ano seguinte,
sem um mínimo de sorte, dividiu o campeonato passando por duas equipes além da
Ferrari, que foram as também italianas Lancia e Maserati, sem finalizar nenhuma
corrida. Em 1955 corria pela Lancia, quando após um mergulho espetacular na
chicane do porto, em Monte Carlo, o assustou consideravelmente. Alberto foi, na
mesma semana, para testes em Monza, dizendo que a melhor coisa para tirar o
medo é entrar em carro de corrida novamente, mas acabou morrendo em um acidente
na terceira volta.
A história de
Alberto lembra em partes a de Ayrton Senna, uma brilhante carreira em uma
equipe que ele acaba deixando, sem contudo repetir o sucesso de outrora. A
história não é muito lembrada por ter acontecido há quase 60 anos, mas a
Ferrari ainda cultua Alberto Ascari como um de seus grandes heróis, dentre os quais,
o maior italiano, feito jamais repetido na história da escuderia.
Jim Clark + Lotus
Jim Clark foi um
caso peculiar na Formula 1, na Indy e na NASCAR. Jim correu nas 3 categorias
sempre pela mesma equipe, em parte por sua amizade com Colin Chapman. Clark não
somente é lembrado como também cultuado até os dias de hoje, sendo que há quem
diga que ao lado dele e de Ayrton Senna, não há outro. Clark estreou pelo time
na F1 em 1960, em uma fase onde os carros da Lotus eram conhecidos por serem
rápidos mas descartáveis, afinal Colin Chapman os fazia para vencerem, não para
durarem. Em uma era onde os carros eram extremamente rápidos e com um mínimo de
aderência, Clark foi um mestre. A primeira vez em que Jim teve um carro capaz
de ganhar um campeonato foi em 1962, e Jim travou uma batalha épica com o não
menos lendário Graham Hill. No final do campeonato, os mecânicos se esqueceram
de apertar um parafuso, e o título ficou nas mãos de Hill.
No ano seguinte,
Clark não deu chance ao azar, e destruiu a concorrência ao vencer 7 das 10
provas disputadas no mundial, ficando de fora do pódio apenas na prova de
abertura, em Monte Carlo, prova que na época era dominada por Graham Hill. Seu
recorde de vitórias em uma única temporada seria quebrado apenas por Ayrton
Senna, 25 anos depois.
Clark sofreu um bocado
por sua lealdade à Lotus, principalmente em 1964. Acontece que quando liderava
o campeonato com o antigo Lotus 25 (para ele perfeito até então), não conseguiu
convencer Colin Chapman a não utilizar o novo Lotus 33. Resultado: O título
terminaria nas mãos de John Surtees, da Ferrari.
Em 1965 o carro já
tinha seus problemas resolvidos, o que significava que nas mãos de Clark seria
um carro vencedor, ou quase invencível. Com precisão e velocidade Jim mais uma
vez estraçalhou a concorrência ao vencer 6 das 9 corridas que disputou,
justificando seu apelido de escocês voador e a fama de ser um dos melhores de
todos os tempos. E ainda venceu as 500 milhas de Indianapolis, só para
completar.
No biênio
1966-1967, Clark mais uma vez sofreu para desenvolver os carros da Lotus, mas
foi em Monza, em 1967 que Jim fez sua exibição mais espetacular. Largou na
pole, teve um problema no pneu e retornou uma volta atrás, na 16ª posição.
Clark então começou a bater o recorde da pista seguidamente, até alcançar a
liderança. Mas na última volta, mais uma vez teve azar: o combustível de seu
carro acabou, e ele teve que se contentar com a terceira posição.
Ninguém duvidava
que Jim seria tricampeão em 1968. Com o lendário Lotus 49 já desenvolvido e a
todo vapor, Jim havia vencido as duas últimas etapas de 1967 e a primeira de
1968. Mas a pedido de Chapman, foi disputar uma prova de Formula 2 em
Hockeinheim. Até hoje não se Sabe exatamente o motivo, mas seu Lotus foi
lançado por entre as árvores, e Jim não sobreviveu. Assim como aconteceu com
Ascari, Jim perdeu a vida no auge, quando ainda poderia conquistar muito mais.
O que só reforça o sentimento de que ele é sem dúvida um dos melhores de todos
os tempos.
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