Após as mortes de Stefan Bellof e Manfred Winkelhock em esportes-protótipos no ano de 1985, as equipes passaram a exigir de alguns pilotos que não participassem de outras categorias que não fosse F1, sobretudo os pilotos de nível mais alto, como Nelson Piquet. E a primeira coisa que ele fez ao se aposentar da F1, foi se inscrever para Indianapolis, em 1992. Nessa época a Formula 1 vivia uma era complicada, a tecnologia embarcada tirava a graça das corridas e a IndyCar passava a ganhar espaço, sobretudo após o início do processo de internacionalização. Havia que achava que Piquet não resistiria à tentação de se tornar efetivo na categoria após Indianapolis.
Só que em 1992 Indianapolis não estava para brincadeira. A começar com Rick Mears, até hoje recordista de vitórias em Indy 500. Depois de uma batida fortíssima, Rick quebrou o pé e ficou de fora daquela que seria sua última participação na corrida, o que acabou nem acontecendo. E Piquet passava a se acostumar com os ovais, onde o risco sempre acompanha os pilotos, próximos aos 400 km/h. E Piquet acabou provando o perigo de uma maneira péssima: no meio da curva 4, um pneu furou. O Lola Buick, a princípio saiu de traseira, porém girou 360 graus e atingiu o muro de frente.
Se a Tamburello foi a curva que matou Ayrton Senna e foi palco de outros acidentes fortes, a curva 4 de Indianapolis possui uma enorme lista de mortes, como Swede Savage, Eddie Sachs e inúmeros outros pilotos. E a batida de Nelson o deixou muito próximo de aumentar essa lista. A força do impacto foi equivalente à queda de mais de 20 andares, e destruiu a parte frontal do carro, assim como as pernas de Piquet. Foram inúmeras fraturas, e era possível perceber a dor de Piquet ao vê-lo agitar os braços após a batida.
Foram várias cirurgias para reconstruir os ossos destroçados nos dias que se seguiram, e não se sabia se após o acidente Nelson teria todos os movimentos de volta. E foram meses de molho, sem contudo que Nelson perdesse seu humor. Em uma entrevista, ao mostrar a ponta do dedão que havia sido praticamente perdida, Nelson disse “uma unha a menos para cortar...” A força de Nelson foi fundamental para que ele se recuperasse, e no final do ano ele fez questão de entrar andando no consultório do cirurgião que havia reconstruído suas pernas, disfarçando sua dor e arrancando um “Miracle!” do médico.
Nelson não somente voltou a andar como também voltou a pilotar. Foi para Indianapolis no ano seguinte e se classificou, porém abandonou o GP após 13 voltas. Ainda andou de Endurance e correu a Mil milhas de Interlagos em parceria com o filho Nelson Angelo. Hoje está longe das pistas, apenas acompanha as carreiras de Nelsinho, Geraldo e Pedro. E nunca se vangloriou de seus maiores feitos, sobreviver à duas curvas mortais.
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