Não existe maior temor para um piloto de Formula 1 do que a vida pós Ferrari. A equipe tem o dom de estraçalhar seus ex pilotos. Exagero? Bem, quem se lembra da carreira de Michele Alboreto (que disputou o mundial de 1985) ou do promissor Ivan Capelli (dali para a Jordan e da Jordan para o final da carreira)? Ou Clay Regazzoni, que depois de sair de lá nunca mais arrumou um carro competitivo? Isso porque têm-se a impressão de que se o piloto saiu da Ferrari, então não existe outro lugar para que possa ir. Poucos saíram de lá e conseguiram manter-se no topo. Aliás, até hoje, só me lembro de Niki Lauda e Alain Prost, que saíram de Maranello e ainda assim conseguiram ser campeões. Mas voltar para lá? Jamais! Se não serviu uma vez, por que seria chamado de volta?
Não sei, tente perguntar a Kimi Raikkönen. Porque eu acredito que ninguém imaginaria que depois de 2009 ele sequer conseguiria um lugar na Formula 1 novamente. Sem se importar com a demissão antecipada, Kimi foi correr de rallye, experimentou a NASCAR e foi viver à sua maneira. E quando foi contratado pela Lotus, muitos pensaram que ali seria finalmente selada sua participação na Formula 1. Como alguém, ex piloto da Ferrari, em uma equipe média teria chance de se dar bem depois de 2 anos longe da categoria? Michael Schumacher, o multicampeão não foi capaz, por que Kimi seria?
Talvez por seu equilíbrio psicológico aliado à sua capacidade. Ou seja, porque ele é Kimi Raikkönen. Ao voltar para a Formula 1 em um carro que não era dos mais competitivos e sendo constantemente mais rápido do que Alonso, Kimi simplesmente desmoralizou a Ferrari. Fez o time de besta, mostrou que não precisava estar lá para vencer e, pior: mostrou que a equipe não colocou em seu lugar um piloto à altura. Derrotou “o melhor de sua geração” sem cerimônia, ignorou entrevistas, mandou seu engenheiro o deixar em paz (afinal ele sabia o que estava fazendo) e obrigou Luca di Montezemolo a engolir suas decisões a ponto de colocar dois galos no mesmo galinheiro.
O fato é que Raikkönen é daqueles que marcam sua geração não só pelo talento, mas também por sua personalidade. É como Nelson Piquet ou James Hunt, está lá para acelerar e nada além disso. O faz muito bem, a ponto de ninguém entender como ele consegue. É agressivo sem causar acidentes, não se envolve em situações perigosas e arranca o máximo de seu equipamento. Kimi não é um piloto geração coxinha como tantos outros que estão lá. Experimentou o risco dos rallyes e a brutalidade da NASCAR. É um “Pure race driver”, coisa que não se vê hoje em dia. Só de voltar para a Ferrari já fez história, e parece que ainda tem muito mais a fazer. Enfim, seu silêncio vale mais que mil palavras.