segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Corrida da vovó
Como todos já havíamos previsto, foi o circo da F1 deixar os obsoletos circuitos europeus e a categoria voltou a ser aquela chatice própria da fase asiática, como carros desfilando nas posições de largada e avançando conforme a estratégia. E, claro, pneus e problemas mecânicos/eletrônicos influenciando (ou melhor, ditando) os resultados finais. Esperava-se mais do que Hamilton vencendo Rosberg do que por um problema no volante. Esperava -se também mais ação, e não uma punição para Vergne por ter quase sido jogado para fora por Maldonado e ainda assim conquistado a posição em uma bela manobra.
O maior destaque da prova talvez tenha sido a entrevista de Felipe Massa após a corrida. Após um louvável quinto lugar em um final de semana que começou cheio de problemas, terminando a corrida com um pneu de quase quarenta voltas, Felipe admitiu que após ser informado pelo engenheiro de que teria que fazer um stint de trinta e oito voltas com aqueles pneus, passou a "dirigir como uma vovozinha". Talvez Felipe tenha descrito aí o que se torna a Formula 1 quando chega a esses modernos e inovadores circuitos que passaram a fazer parte da categoria desde a década passada.
A Formula 1 mostra também uma tentativa de deixar o público mais próximo, com invasões de pista no final da corrida tal como acontece ao final de cada GP em Monza, ou como já aconteceu em pistas como Silverstone e Brands Hatch.mas é difícil tentar impor tradição em países onde o automobilismo não faz parte da cultura ou da história, como em países da Europa ou até mesmo no Brasil. No próximo ano, a F1 aproveita a onda de pilotos mexicanos e volta a aportar em Hermanos Rodriguez. A má notícia? Com reforma sob a batuta de Hermann Tilke, sem a famosa Peraltada.
Talvez uma das grandes falhas da categoria nos últimos anos seja uma falha que ajudou a acabar com a antiga CART na década passada: buscar novos fãs e se esquecer de quem realmente era apaixonado pela categoria. Após tentar deixar de lado boas provas nos USA, fãs tradicionais torceram o nariz e a categoria se perdeu tentando conquistar na Europa um espaço que já era da Formula 1. A Formula 1, por sua vez, invade cada vez mais países sem público, pistas como Cingapura onde só há beleza e nenhuma emoção, ou pistas como a da Coréia, sem beleza nem emoção. sem falar da perda de identidade, sem permitir disputas mais acirradas e deixar de lado o laboratório de desenvolvimento que a categoria sempre foi. Aí, ponto para WEC e até mesmo para Formula E, que desenvolvem tecnologias que se tornarão im´prescindíveis em carros de rua (para quê serve o KERS mesmo?).
Nas últimas corridas, a FOM desceu um pouco do pedestal, retrocedeu em certos aspectos e a Formula 1 foi do jeito que todo mundo gosta. Voltou à sua forma moderna ontem e todo mundo chiou, mais alto do que o ronco dos motores. Está na hora de a categoria recuperar sua identidade. Afinal, em Monza ninguém reclamou de nada, nem mesmo do som dos motores. E pelo que vi as pessoas comentando sobre a Formula E, parece mesmo que o público quer muito mais do que carros barulhentos. Até minha vovozinha sabe.
domingo, 7 de setembro de 2014
Acima da expectativa
A etapa de Monza foi uma prova de que a Formula 1 não está tão ruim como muitos julgam. Pelo menos não durante a fase europeia (+ o GP do Canadá), disputados em circuitos obsoletos, onde Tilke não colocou a mão ou não consegui estragar por completo. Tudo começou hoje com uma largada ruim de Bottas e Hamilton, e boas largadas de Massa e Magnussen. Estava aí aramado o cenário de uma prova que seria marcada por grandes disputas, ultrapassagens e um erro que causou a Rosberg a liderança da prova. A prova de hoje mostrou que o domínio da Mercedes não tem sido do tipo que estraga uma temporada, muito pelo contrário. Remete a disputas como Villeneuve X Scheckter, Lauda X Prost, Mansell X Piquet, Senna X Prost e Villeneuve Filho X Hill filho. O domínio da Mercedes não se resume ao domínio de um piloto, abre espaços para brigas como vimos em Spa e erros como os de Monza. Situações que abrem espaço para um motivado e surpreendente Ricciardo, que não se apequenou diante do fato de ser um novato em uma equipe que conta com ninguém menos do que o atual tetracampeão. E que não se intimida ao encontrá-lo na pista (será por usar em seu capacete o número do famoso "Intimidator"?). Vimos uma Fórmula 1 onde novos talentos como Bottas, Magnussen e o já citado Ricciardo colocarem no bolso uma geração talentosa que conta com os desmotivados Alonso e Raikkönen, que não contam com um equipamento à altura, e também superam um Massa em fase de renovação, junto com um time que há muito não vê a glória mas nunca desiste de procurá-la. Enfim, se os motores não rugem como deveriam, as boas surpresas e disputas compensam essa deficiência. Só uma pena, uma pena mesmo, que na próxima fase do campeonato contemos com lugares como Índia, Coréia e Abu Dhabi, tão tradicionais no automobilismo como Snowboard no Brasil. O problema não são os locais em si, mas os traçados que não permitem cenas como Button e Pérez dividindo a Lesmo, Ou Magnussen dando um chega-para-lá em Bottas na primeira chicane. A falta da caixa de brita na Parabólica não tirou o brilho da corrida, e a temida primeira chicane pregou boas peças em Rosberg, que mostrou ali precisar de algo mais se quiser ser realmente campeão - e ele quer. Talvez agora fique um pouco mais difícil de mostrar se seu talento realmente será decisivo, em pistas onde se ganha mais por estratégia e menos por braço, já que não teremos Parabólicas, Eau Rouges ou Copses.
O fim da temporada europeia deixou aquele gostinho de quero mais. De saudade de um GP em Paul Ricard, da grande Parabólica do Estoril, das longas retas de Hockeinheim. A temporada europeia mostrou que dá para recuperar, sim, a competitividade e a emoção da Formula 1. E quem sabe a FIA resolva perceber o que os fãs de Formula 1 realmente querem: menos esquinas e mais curvas de verdade.
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