Muita gente acredita que o acidente de Rubens Barrichello naquela sexta-feira foi o início do que seria um dos finais de semana mais trágicos do automobilismo. Na verdade, aquele final de semana foi resultado de um conjunto de acontecimentos negligenciados ao longo de muitos anos (se levarmos em consideração os problemas do autódromo de Ímola) e pelas então recentes mudanças de regulamento na tentativa de diminuir custos e equalizar desempenho (essas tão infrutíferas quanto demagogas).
No final de 1993, a FIA decidiu proibir as ajudas eletrônicas, o que valorizaria o talento dos pilotos. Só se esqueceu de que os carros e motores tinham sua potência e aerodinâmica baseadas nesses apoios eletrônicos, que foram retirados sem que os carros recebessem mudanças técnicas de forma a torna-los estáveis e seguros. O resultado foram carros frágeis demais para tanta potência, e pouca estabilidade para mantê-los na pista.
Na pré-temporada, Ayrton Senna já havia alertado para o perigo e mostrava-se preocupado com a situação. E após uma rodada no Brasil e uma durante os treinos em Ainda, ficava claro que o carro não estava fácil de guiar. Tudo o que faltava para um grave acidente era uma pista apropriada para tal. E foi aí que a Fórmula 1 chegou a Ímola.
Na sexta-feira, como todos sabem, Rubens Barrichello decolou com sua Jordan na Variante baixa e bateu acima da proteção de pneus, quebrando o nariz e o braço. A maior sorte de Rubinho foi o ponto do circuito onde ele bateu, e apesar de ter batido acima da proteção de pneus, não acertou nenhuma parede de concreto.
A mesma sorte não teve Roland Ratzemberger. Durante o último treino classificatório, o austríaco sabia que teria que se esforçar para conseguir um lugar no grid com sua fraca Simtek. Ele dizia estar andando acima do limite do carro, arriscando tudo por uma vaga para correr no domingo. Mas durante uma volta rápida, seu carro passou reto na curva Villeneuve e chocou-se violentamente com um muro que não possuía nenhuma proteção. O choque foi terrível, a ponto de destruir o monocoque de maneira que sua perna ficasse exposta.
Para Ayrton Senna, a classificação acabou ali. Para aquele que era, na ocasião, o maior astro da F1, algo precisava ser feito. Um acidente grave e um fatal, antes mesmo da corrida, já mostravam que a F1 havia passado do ponto naquele final de semana. A TV identificou uma peça se soltando, a qual acreditou tratar-se de um pedaço do aerofólio, o que jamais foi comprovado. Mas nada seria capaz de isentar o inseguro Autodromo Enzo i Dino Ferrari. Roland foi declarado morto 10 minutos após sua entrada no Hospital Maggiore, embora as imagens de seu resgate mostrem claramente uma grande quantidade de sangue saindo pelo seu nariz. 8 anos após Elio de Angelis, a Formula 1 voltava a ter um acidente fatal, e muitas perguntas sem resposta.